quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Capítulo 51: O Adeus... ou o Recomeço?

Os primeiros raios do sol pintavam o céu de um laranja ardente enquanto Marina, Augusto e Dona Lindoca caminhavam juntos, rindo das desventuras recentes. Parecia o fim de uma era. Marina finalmente decidira abrir espaço para sua própria felicidade, Augusto estava encarando de frente as mudanças que precisava fazer, e Dona Lindoca... bem, Dona Lindoca seguia como a alma mais indomável e imprevisível do trio. 

— Então é isso? — Marina perguntou, jogando os braços para o alto. — A gente vai virar gente normal agora? Sem karaokês desastrosos, sem perseguições de nudistas, sem pizzas queimadas por acaso divino?  

— Mais respeito com as aventuras passadas, minha filha! — Dona Lindoca rebateu, sacudindo o dedo. — E gente normal é um conceito superestimado.  

Augusto deu uma risada leve, mas logo ficou sério.  

— Eu preciso contar uma coisa. — Ele respirou fundo, enquanto as duas amigas paravam para ouvi-lo. — Eu tomei uma decisão. Nada de cigarros, nada de álcool... nada de fugir dos meus sentimentos. Chegou a hora de eu lidar de verdade com o que aconteceu com meu pai.  

Marina olhou para ele com admiração.  

— Augusto, isso é maravilhoso. Tenho certeza de que seu pai ficaria orgulhoso.  

— Espero que sim. — Ele sorriu, meio tímido, mas com firmeza.  

— Então estamos todos tentando nos resolver, né? — Marina comentou, pensativa.  

— Como assim "todos"? — Dona Lindoca perguntou, desconfiada.  

— Eu... — Marina começou, olhando para os pés. — Eu vou dar uma chance ao João Padrão. Ele é meio sem noção, mas me faz rir. E, sinceramente? Acho que é hora de parar de fugir.  

Dona Lindoca arregalou os olhos.  

— Menina, você vai mesmo dar bola para aquele menino que achou que você tinha 20 anos?  

— Ei! — Marina respondeu, rindo. — Ele tem um bom coração. E com aquele rostinho lindo, quem é que precisa fazer conta?  

Augusto cruzou os braços, observando a cena com um meio sorriso.  

— Bom, se até a Marina está se rendendo ao amor, acho que tem esperança pra todos nós.  

Eles riram juntos, mas o riso foi interrompido pelo som de um celular vibrando no bolso de Marina. Ela atendeu sem pensar.  

— Alô? Sim, é a Marina... O quê? Como assim?  

O tom sério de sua voz chamou a atenção de Augusto e Lindoca.  

— Certo, estamos indo para aí agora. — Ela desligou e olhou para os amigos, com os olhos arregalados. — É minha irmã Julia. Algo estranho aconteceu na pizzaria. Parece que...  

Antes que pudesse terminar, um carro preto e reluzente parou ao lado deles. A janela desceu devagar, revelando Douglas Sumicabello, o excêntrico cabeleireiro do Estilo Divino.  

— Ah, que bom que encontrei vocês! — ele disse, com sua voz melódica e ligeiramente assustadora. — Preciso da ajuda de vocês urgentemente. Algo terrível aconteceu no salão!  

— De novo esse salão? — Augusto perguntou, confuso. — E o que tem a ver com a pizzaria da Julia?  

Douglas balançou a cabeça, aflito.  

— Está tudo conectado. Vocês precisam vir comigo agora.  

— Conectado? Como assim? — Marina perguntou, mas já sendo puxada para dentro do carro por Dona Lindoca, que parecia mais empolgada do que preocupada.  

Augusto hesitou, mas acabou entrando. Enquanto o carro acelerava em direção ao desconhecido, uma pequena bolsa de couro repousava no banco de trás, com um logotipo peculiar gravado: um círculo contendo uma tesoura e uma fatia de pizza cruzadas no centro.  

Marina olhou para os amigos, um misto de ansiedade e determinação em seu rosto.  

— Acho que nossos planos de virar gente normal vão ter que esperar.  

Augusto deu uma risada nervosa, enquanto Dona Lindoca segurava firme um borrifador de cabelo que encontrou no banco.  

— Seja lá o que estiver por vir, espero que pelo menos tenha uma boa música!  

E o carro desapareceu no horizonte, enquanto a noite prometia o início de mais uma saga.  




Fim







...ou não.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Capítulo 50: Entre Microfones e Marlboros

Era uma quinta-feira e Marina, Dona Lindoca e Augusto decidiram que uma noite de cantoria no karaokê seria perfeita para esquecer os perrengues da semana. O local escolhido era o famoso por suas cervejas geladíssimas e performances dramáticas.

— Gente, preparem-se. Hoje é o dia que meu talento será reconhecido. Vou cantar La Isla Bonita com todo o poder de Madonna! — Augusto anunciou enquanto estacionavam o carro. 

— Se você desafinar, eu te jogo uma margarita na cara. — Dona Lindoca provocou, piscando.

— E se sobrar tempo, eu me arrisco em Toxic. O público merece um momento Britney! — Augusto disse, segurando a porta do karaokê para as amigas.

A entrada foi triunfal: Marina com um vestido brilhante, Dona Lindoca de batom vermelho vibrante e Augusto usando uma ousada regata de lantejoulas e uma calça de couro que deixava pouco para a imaginação.

A noite começou com apresentações inusitadas: um rapaz cantando Bohemian Rhapsody como se estivesse lendo um edital de concurso público e uma mulher que transformou Total Eclipse of the Heart em algo próximo a um ritual de exorcismo.

— Gente, olha esse palco. A iluminação está perfeita pra nossa estreia. — Marina disse, olhando ansiosa para a lista de músicas.

— Estreia? Você já cantou em karaokê antes. — Augusto lembrou.

— Sim, mas nunca com meu público fiel: vocês. — Marina piscou, entregando as fichas de música.

Quando chegou a vez do trio, a plateia já estava devidamente calibrada com bebidas. La Isla Bonita começou a tocar, e o trio subiu ao palco, arrasando nas notas (ou pelo menos tentando). Augusto era a estrela, Dona Lindoca, o reforço animado, e Marina... bem, ela estava mais preocupada em acertar os passos de dança que Augusto insistiu em incluir na apresentação.

A performance foi um sucesso. Todos aplaudiram de pé, mas o destaque veio quando uma mulher desconhecida, visivelmente emocionada, saiu de sua mesa e correu até Augusto. A desconhecida. de cabelos encaracolados e sorriso gigante, saiu do meio da multidão e avançou em direção a Augusto.

— Foi a melhor coisa que eu já ouvi! Você é incrível! — disse ela, jogando os braços ao redor dele em um abraço apertado como se fossem amigos de infância.

Augusto congelou. Ele não era exatamente fã de abraços de desconhecidos — ou abraços em geral. Marina e Dona Lindoca tentaram disfarçar o riso enquanto Augusto, com os braços duros ao lado do corpo, murmurava:

— Obrigado... eu acho?

A mulher finalmente o soltou, mas não sem antes acariciar seu rosto e dizer:

— Você tem uma alma tão pura.

— Certo... vou ali pegar uma água. — Augusto disse, fugindo para a área externa.

Minutos depois, Marina, desconfiada do comportamento do amigo, decidiu ir atrás dele. Encontrou-o do lado de fora, com um cigarro aceso entre os dedos, olhando para o céu. Em vez de uma conversa séria e emocional, ela soltou um grito dramático, teatral:

— TRAIDOR DO SISTEMA CARDIOVASCULAR!

Augusto deu um salto, quase derrubando o cigarro.

— Marina, pelo amor de Deus, não grita! Quer que todo mundo saiba?

Ela ignorou completamente e começou a improvisar uma coreografia no meio do estacionamento, cantando:  

"Olha o fumante, o fumante, ele tá escondidinho da gente!"

Antes que Augusto pudesse respondê-la, Dona Lindoca apareceu, trazendo uma margarita na mão e uma batata frita na outra.

— Que confusão é essa aqui fora? — ela perguntou, olhando desconfiada.

Marina apontou dramaticamente para o cigarro ainda aceso na mão de Augusto.

— Nosso amigo está tentando se transformar numa chaminé humana!

Dona Lindoca, sem perder a compostura, deu um gole na margarita, pegou o cigarro da boca de Augusto e o apagou com os dedos como se fosse uma cena de filme de faroeste.

— Escuta aqui, meu filho. Se você vai fumar, pelo menos faz isso direito. Cigarro ruim? Não. Charuto cubano? Talvez. Agora, volta lá pra dentro e escolhe uma música feliz pra gente cantar. Esse drama todo tá me dando azia.

Augusto, atordoado, não sabia se ria ou se se escondia.

— Lindoca, você não tá ajudando! — Marina gritou.

— Claro que tô, menina. Você quer que ele largue o cigarro ou que ele tenha uma crise de nervos? Vem, Augusto, você canta e eu danço. O resto a gente resolve outro dia. — Lindoca deu-lhe um tapinha no ombro e começou a caminhar de volta para o karaokê, margarita em punho.

Marina, ainda indignada, seguiu os dois, resmungando algo sobre "péssimos exemplos".

De volta ao salão, Augusto tentou se redimir escolhendo uma música alegre: I Will Survive. A escolha acabou contagiando todos os presentes, incluindo Marina, que não conseguiu segurar o riso ao ver Dona Lindoca rodopiando ao redor do palco com um guardanapo na cabeça, como se fosse uma faixa de diva.

No final da noite, Augusto olhou para as amigas e sorriu.

— Vocês são um pé no saco, mas eu amo vocês. — ele disse, abraçando Marina e Dona Lindoca ao mesmo tempo.

— E nós te amamos, mesmo fedendo a cigarro. — Marina respondeu, apertando o nariz.

A noite terminou com mais risadas do que broncas, e Augusto, ainda que um pouco envergonhado, decidiu que seria sua última tragada. Afinal, enfrentar os desafios com amigos do lado era bem mais fácil — e mais divertido.

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Capítulo 49: A Noite das Almas Lavadas

Era uma noite de brilho e ritmo latino, e Marina finalmente cedeu às tentativas de Melina de "socializar". Após anos de escassez de beijos e uma certa seca amorosa, ela sentia que talvez estivesse na hora de dar uma chance para a vida noturna outra vez. Juntas, Marina e Melina chegaram ao salão de salsa, onde o cheiro de margaritas misturava-se ao som envolvente dos tambores e guitarras. Já lá dentro, elas encontraram Augusto e Dona Lindoca em um cantinho, segurando, cada um, uma jarra gigante de margarita — uma para cada mão.

— Olha quem resolveu dar as caras na pista! — gritou Augusto, acenando com uma das jarras para Marina.

— Vocês chegaram cedo, hein? — disse Marina, rindo enquanto Melina olhava ao redor.

— Querida, eu já to no meu terceiro giro de “Arriba, abajo, al centro, pa’ dentro!” — respondeu Dona Lindoca, fazendo um brinde com Augusto.

— E alguém aqui precisa de um mambo! — gritou Augusto, virando-se para a banda. — MAMBOOO!

A banda, que estava no meio de uma salsa mais clássica, ignorou os gritos e continuou tocando. Mas Marina mal reparou, pois seus olhos tinham pousado em João Padrão, um estudante universitário com um sorriso encantador, que a olhava do outro lado do salão.

— Olha lá, Marina! — disse Melina, percebendo o olhar da amiga. — Esse aí tem cara de recém-saído do ensino médio, hein?

— Ai, Melina, não seja chata… É só um papo, né? — disse Marina, revirando os olhos, mas sorrindo. — Vai que…

João se aproximou, o sorriso aumentando, e ao chegar mais perto, exclamou:

— Meu Deus, você tem cara de… sei lá, vinte anos?

Marina riu, deliciada com o elogio inesperado.

— Ah, obrigada… Mas, na verdade, tenho um pouquinho mais, viu?

Ele riu também, mas manteve o tom confiante.

— Vinte e um, então? — ele disse, piscando.

Antes que Marina pudesse responder, Melina se meteu entre os dois.

— Ai, que fofinho! — disse ela, com um sorriso que parecia mais um escudo. — João, quem sabe você não quis dizer 20 anos... em cada uma das pernas da Marina?

Marina olhou para Melina, incrédula, enquanto João tentava entender o comentário.

— Ah, então, Marina… o que acha de dançarmos? — insistiu João, ignorando Melina e estendendo a mão para Marina.

— Acho uma ótima ideia! — respondeu Marina, ignorando a cara desapontada de Melina.

Enquanto dançavam, Augusto e Dona Lindoca, inspirados pelas margaritas, avançaram para a frente do palco, exigindo:

— EU JÁ DISSE MAMBO! Toca um mambo caliente pra minha amiga aqui! — gritou Dona Lindoca, apontando para Augusto que dançava desengonçadamente, mas com um sorriso tão grande que o próprio percussionista da banda deu uma risadinha.

— Essa é a dança! Vamos a bailar, muchachos! — disse Augusto, fazendo um movimento nada ritmado com as pernas e braços, que logo fez Dona Lindoca acompanhá-lo.

De repente, o baterista atendeu ao pedido e começou a tocar um mambo acelerado. Augusto e Dona Lindoca começaram a girar e fazer passos exagerados na pista, atraindo a atenção de todos.

Enquanto isso, Melina, vendo Marina rindo e dançando com João, lançou seu último golpe:

— Então, João, você sabia que Marina tem muito mais experiência de vida do que parece, né? — disse, quase berrando sobre a música. — Uma mulher com tanta maturidade é difícil de encontrar! 

Marina, sem conseguir aguentar, parou e deu uma piscadela para João:

— Não liga pra ela, João. Ela tem esse “talento” pra me encalhar… Vamos, me mostra o que você tem!

E com isso, Marina e João voltaram à dança, enquanto Augusto e Dona Lindoca, já levemente bêbados, deram um show particular de passos de mambo. Enquanto Marina e João Padrão se aproximavam, os olhos de Melina quase soltavam faíscas de indignação. No ritmo da música, eles dançavam juntos, os rostos a milímetros um do outro, até que finalmente aconteceu: Marina e João se beijaram, com toda a intensidade de anos de escassez amorosa da parte dela.

A reação de Melina não foi exatamente discreta. Com os punhos cerrados e o rosto vermelho, ela avançou como um furacão de zanga.

— Marina! — gritou, interrompendo a dança. — O que é isso?! Você mal conhece o garoto, e já está se jogando pra cima dele!

— Melina, calma — disse Marina, visivelmente sem paciência. — Não tô jogada coisa nenhuma! Tô só... aproveitando o momento.

Mas Melina não quis saber de conversa e continuou:

— Eu achei que você estivesse buscando algo... sério. Um compromisso, um namorado que te respeite! Olha esse garoto, ainda tem espinhas no rosto! Tá te tratando como uma… adolescente! 

Nesse momento, Augusto e Dona Lindoca, já animadíssimos e com tequilas fluindo como água, perceberam a confusão.

— Ah, não! Chegou a Encalhação Personificada. Vou resolver isso agora — disse Augusto, cambaleando em direção a Melina e segurando-a pelos ombros.

— Olha, Melina, escuta aqui… — começou ele, tentando focar na amiga enquanto lutava para equilibrar-se. — A Marina é uma adulta e sabe o que tá fazendo! Aliás, faz milênios que ela não tem um beijo desses, né?

— Exatamente! — reforçou Dona Lindoca, dando um soluço de tequila. — Deixa a menina beijar em paz, mulher! Vai atrapalhar os outros pra lá!

Melina tentou escapar das mãos de Augusto e ir até Marina, mas Dona Lindoca colocou-se firmemente entre as duas.

— Olha, minha amiga, você precisa de uma margarita extra forte! Vou lá buscar pra você e já volto.

Mas Melina recusou, com uma expressão irritada.

— Vocês não entendem! Eu só estou protegendo a Marina. Esse garoto é um aproveitador!

— Aproveitador nada, querida! Aproveitadora é ela, que tá aproveitando a vida — respondeu Augusto, lançando um olhar cúmplice para Marina, que ria enquanto João lhe beijava a testa. 

Finalmente, Augusto e Dona Lindoca decidiram arrastar Melina até a pista de dança, onde os dois resolveram dançar para distraí-la da cena. Ainda relutante, Melina foi, resignada, enquanto Marina e João continuavam o beijo em paz.

A noite seguiu alegre e cheia de dança, com Marina redescobrindo a paixão esquecida, enquanto Augusto e Dona Lindoca usaram de toda a tequila para "exorcizar" o espírito encalhadeiro de Melina. Após uma noite que já tinha de tudo – paixão, tequila e dança –, a tensão entre Marina e Melina finalmente chegou ao ponto de ebulição.

No caminho do estacionamento, Melina decidiu que não ia mais segurar sua indignação e, de braços cruzados e testa franzida, foi direto a Marina, interrompendo seu momento com João Padrão.

— Então é assim? Um cara qualquer vem, te joga uns olhares e você cai que nem uma patinha?! Achei que você era mais inteligente!

Marina respirou fundo, tentando manter a calma, mas o sangue já lhe subia à cabeça. Os olhos, antes suaves, brilharam com uma determinação que Melina raramente via.

— Olha, Melina, quer saber? Eu tô cansada de você metendo o bedelho em tudo o que eu faço! — respondeu Marina, com a voz firme. — Sério mesmo, você não aguenta ver os outros felizes?

— Felizes? — Melina riu, sarcástica. — Você acha mesmo que essa “felicidade” vai durar? Ele nem sabe que você tem trinta e...

— Ei, ei, ei! — interrompeu Augusto, mais alterado do que nunca e segurando um copo de margarita que chacoalhava sem parar. — Um brinde às mulheres autossuficientes, que não dependem de homem, mas também não recusam um bom beijo!

Dona Lindoca, que já estava em um estado avançado de euforia, gritou, segurando o riso e apontando para Melina.

— Amiga, você precisa é de um banho de humildade! Aliás, quem sabe uma chuveirada geral? — ela ergueu o copo com tequila, já cambaleante.

A discussão entre Marina e Melina seguiu, com as duas se aproximando cada vez mais, quase coladas uma na outra, enquanto Augusto e Dona Lindoca assistiam com expressões boquiabertas, completamente envolvidos pela situação.

— Você é patética, Marina! — Melina cuspiu as palavras. — Vai cair do cavalo rapidinho quando esse moleque sair correndo.

Antes que Marina pudesse responder, Dona Lindoca deu um passo cambaleante para frente e, como se estivesse ensaiando para o momento há anos, seu rosto ficou pálido.

— Acho que… o meu estômago… — ela tentou segurar, mas não teve jeito.

Com um "arremesso" poderoso e absolutamente inesperado, Dona Lindoca projetou um jato de vômito direto sobre Melina, que ficou congelada de horror, a margarita escorrendo em lágrimas verdes pela blusa dela.

Augusto, segurando uma gargalhada, bateu palmas e berrou, enquanto tentava se manter em pé:

— Essa é a minha amiga, La Vómito! O show não podia terminar melhor!

Marina, segurando o riso, enquanto João Padrão observava tudo sem entender direito o que estava acontecendo, deu um passo para trás e respirou fundo, tentando não gargalhar.

— Ah, Melina, só pra constar: você é mesmo uma péssima amiga, mas, agora, pelo menos está limpinha! — disse Marina, com um sorriso irônico.

Melina, em um misto de choque e raiva, saiu correndo em direção ao banheiro, murmurando insultos entre dentes, enquanto Marina, Augusto e Dona Lindoca se abraçavam, rindo como crianças e tentando ignorar o cheiro forte que pairava no ar.

João, que até então assistia a tudo em silêncio, apenas comentou:

— Olha, eu sempre achei que festas de salsa fossem animadas, mas… vocês superaram todas as minhas expectativas.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Capítulo 48: Brinque com a sua comida

Ainda se recuperando da confusão da festa de Halloween, Marina mal teve tempo de colocar os pés em casa quando seu telefone tocou. Do outro lado da linha, sua irmã Julia estava em pânico.

— Marina! Pelo amor de Deus, você precisa me ajudar. O fotógrafo que eu contratei para fazer as novas fotos da Salsa & Merengue... ele... ele... — a voz de Julia parecia cada vez mais desesperada.

— Calma, calma! O que ele fez? — perguntou Marina, já imaginando o pior.

— Ele fotografou as pizzas... mas em partes! Pequenos fragmentos! A borda tá numa foto, o recheio em outra... virou um quebra-cabeça! Como vou divulgar isso? Não dá nem pra reconhecer que é uma pizza!

Marina, segurando o riso, percebeu que a situação era bizarra até para os padrões da família.

— Julia... você contratou um fotógrafo conceitual pra fotografar PIZZAS? — perguntou Marina, já imaginando o tipo de fotógrafo excêntrico que Julia havia encontrado.

— Não sabia que ele era conceitual! Ele disse que as fotos seriam "uma explosão visual de sabor." Agora tô aqui com um monte de fotos picotadas e não sei o que fazer! Preciso de ajuda urgente. — Julia parecia à beira de um colapso.

— Tá bom, tô indo. Vou chamar o Augusto e a Dona Lindoca também. Vamos transformar essas pizzas fragmentadas em uma obra-prima! — respondeu Marina, determinada a ajudar a irmã a sair dessa enrascada.

No salão improvisado de fotos, Augusto chegou primeiro, ainda usando uma camisa do Drácula da festa de Halloween.

— Então quer dizer que as pizzas foram... desmontadas? — ele perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— É um verdadeiro quebra-cabeça gourmet! — Julia respondeu, enquanto mostrava as fotos. — Olha isso! Aqui tá só um pedacinho de calabresa, ali um pedaço de catupiry... e aqui uma fatia de borda de queijo! Como vou postar isso nas redes?

— Ah, Julia... Isso aqui tá parecendo arte moderna. — Augusto comentou, segurando uma risada. — Talvez devêssemos fazer uma exposição no MAM ao invés de divulgar pizzas.

Dona Lindoca chegou logo depois, com sua praticidade habitual.

— Bom, isso aqui é uma confusão daquelas, mas nada que a gente não consiga resolver. Já vi coisa pior. Uma vez, na década de 80, me ofereceram um serviço de fotografar biscoitos com efeitos especiais. Achei que a câmera tinha derretido! — disse ela, pegando as fotos fragmentadas e espalhando sobre a mesa.

— Tá, vamos tentar montar essas pizzas de novo. Talvez dê pra fazer colagem ou algo assim — sugeriu Marina, já sentindo o cansaço bater, mas disposta a ajudar a irmã.

Depois de várias tentativas de encaixar as fotos como um quebra-cabeça de pizza, Augusto teve uma ideia.

— E se a gente fizer uma campanha diferente? — sugeriu ele, com um brilho nos olhos. — A gente posta as fotos picotadas, mas fala que é uma "Caça ao Sabor"! Os seguidores têm que montar a pizza na imaginação. É interativo!

— Interativo? Tipo um "brinque com sua comida"? — perguntou Julia, hesitante.

— Isso mesmo! Você faz o público participar. E no final, quem montar a pizza certinho ganha uma pizza de verdade! — completou Augusto, orgulhoso de sua ideia.

Dona Lindoca riu, batendo palmas:

— Gênio! Isso vai fazer essas pizzas ficarem na boca do povo. Literalmente!

Julia olhou para as fotos, depois para os amigos, e finalmente começou a relaxar.

— Eu... acho que pode funcionar. Não era bem o que eu imaginava, mas se fizer sucesso, vai valer a pena!

— Claro que vai! A Salsa & Merengue vai bombar com essa campanha interativa. — Marina sorriu, feliz por ter encontrado uma solução para a irmã.

Augusto, Marina e Dona Lindoca se dividiram em tarefas. Marina cuidava da parte gráfica, editando os pedaços das pizzas para que parecessem mais como uma estratégia de marketing interativo do que um erro bizarro de fotografia. Augusto começou a redigir os textos da campanha: "Você já montou a sua pizza dos sonhos? Chegou a hora com a Salsa & Merengue!" Dona Lindoca, sempre prática, organizou uma pequena degustação no salão para atrair curiosos e criar buzz.

O resultado foi melhor do que todos esperavam. Os clientes adoraram a novidade e, em poucos dias, a Salsa & Merengue estava lotada, com pedidos de pizzas especiais para "montagem". Julia, aliviada, finalmente respirou.

— Eu não acredito que isso funcionou. — Julia comentou, sentada com os amigos no final de mais um dia de sucesso.

— Isso é o que acontece quando você trabalha com gênios criativos. — Marina piscou, provocando risos no grupo.

Dona Lindoca, porém, ainda não havia desistido de uma crítica final:

— Mas me diz uma coisa... por que você achou que contratar um fotógrafo que já tirou fotos de sapatos em árvores era uma boa ideia?

Julia suspirou, e todos riram. Afinal, na Salsa & Merengue, até uma pizza em pedaços podia se transformar em sucesso com a dose certa de criatividade.

— Quem diria que uma pizza quebrada podia fazer tanto sucesso? — disse Marina, satisfeita.

— Ah, a vida é feita de pedaços... às vezes você só precisa juntá-los de um jeito diferente. — concluiu Augusto, já pensando na próxima aventura da turma.

Dona Lindoca finalizou, com uma mordida na pizza:

— Pedaço por pedaço, o importante é que a gente sempre monta tudo no final.

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Capítulo 47: O Terror Universitário de Halloween

Marina estava elétrica com a ideia de ir a uma festa de Halloween. Desde que comprara uma fantasia de bruxa glamurosa, com um chapéu enorme e um vestido cheio de paetês, estava determinada a brilhar. Porém, havia um detalhe que ela havia ignorado: todas as festas disponíveis eram universitárias, cheias de jovens enérgicos e estranhos.

— Vamos, gente! Vai ser incrível! — insistia ela, enquanto Augusto e Dona Lindoca trocavam olhares duvidosos.

— Marina, essas festas universitárias são... como posso dizer? Muito barulhentas, sabe? E, bom, a média de idade é... — Augusto hesitava, sabendo que o argumento poderia ofendê-la.

— Muito menor que a nossa! — completou Dona Lindoca, sem rodeios.

— Ah, para, vocês dois! — Marina revirou os olhos. — Ninguém vai perceber! Vamos nos divertir e pronto! Augusto, você pode ir de... sei lá, Drácula! E Lindoca, de fada!

— Fada? Cê tá louca? Eu não sou desse tamanho todo pra ser uma fada! — retrucou Dona Lindoca, indignada. — Se eu for, vou de Mortícia Addams. Elegante, toda de preto, nada dessas coisinhas esvoaçantes.

Augusto suspirou, mas no fundo sabia que não tinha escapatória. E assim, naquela noite de Halloween, Marina, toda empolgada com sua fantasia de bruxa chique, arrastou os dois amigos para a festa universitária mais caótica da cidade.

O lugar estava abarrotado. Jovens fantasiados corriam de um lado para o outro, derrubando copos de cerveja, gritando e rindo sem parar. Assim que entraram, Marina já estava maravilhada.

— Gente! Olha quanta fantasia incrível! — ela exclamou, enquanto olhava ao redor.

Augusto, vestido de Drácula, tentava esconder o desconforto. A capa vermelha balançava atrás dele, mas ele parecia mais preocupado com a multidão ao seu redor.

— Isso aqui parece uma rave de Halloween, Marina! — disse ele, já sendo empurrado por um grupo de zumbis bêbados. — Tô me sentindo um figurante de filme de terror B!

Dona Lindoca, por outro lado, estava firme no seu papel de Mortícia Addams. Só que a classe da personagem estava se desmanchando ao ter que desviar de pessoas com fantasias de dinossauros infláveis e Minions dançantes.

— Marina, você nos colocou numa cilada. Eu já pisei em quatro pés diferentes e nem entrei na festa direito! — reclamou ela, com as mãos na cintura.

— Relaxa, vai ser divertido! — respondeu Marina, pulando de entusiasmo. — Vamos pegar algo para beber!

Enquanto esperavam na fila para as bebidas, um universitário fantasiado de taco de comida mexicana começou a puxar papo com Marina.

— E aí, gatinha! Sua fantasia tá uma bruxaria, hein? Cê é de qual curso? — ele perguntou, já visivelmente embriagado.

Marina, sem perder o sorriso, respondeu:

— Sou formada em arrumar confusão, você? — retrucou, jogando charme e dando uma risada.

— Eu sou do curso de viver a vida intensamente, bebê! — ele disse, levantando o copo de cerveja.

Dona Lindoca, já perdendo a paciência, puxou Marina de lado.

— Marina, esse garoto ainda tá aprendendo o alfabeto, você percebe, né? Vamos sair daqui antes que eu tenha que bater nele com a vassoura da sua fantasia! — cochichou Lindoca.

Augusto, por sua vez, tentava se manter à margem, até que um grupo de jovens fantasiados de personagens de anime se aproximou.

— E aí, Drácula! Vem tirar uma foto com a gente! — gritaram eles, puxando Augusto pelo braço.

— Ah, não... Não, gente, cês tão confundindo o Drácula com uma pessoa que gosta de fotos... — tentou se esquivar, mas logo foi envolvido no meio de um flash mob improvisado.

Depois de horas tentando dançar, evitar copos voadores e lidar com jovens efusivos, os três amigos se retiraram da festa, exaustos e confusos.

— Eu nunca mais faço isso. Nunca mais! — disse Augusto, tirando a capa de Drácula e jogando no banco de trás do carro. — Eu quase fui atropelado por um Pikachu bêbado!

— Eu pisei em tanto refrigerante que o meu salto vai colar no chão pra sempre. — resmungou Dona Lindoca, olhando para os sapatos pretos.

Marina, ainda que cansada, deu uma gargalhada.

— Gente, eu avisei que ia ser uma aventura! Não é todo dia que vocês têm a chance de ir numa festa assim. Tô até considerando voltar ano que vem!

— Só se eu vier de fantasma, porque ninguém vai me ver nessa bagunça. — retrucou Augusto, cruzando os braços.

Dona Lindoca, finalmente, deu uma risadinha:

— Bem, pelo menos saímos vivos. E sabe, Marina, sua bruxa foi a fantasia mais glamurosa do lugar. Isso eu te dou crédito.

Marina sorriu vitoriosa, mesmo com os pés doendo e a maquiagem borrada. Afinal, Halloween era sobre diversão... ou quase isso.